domingo, 22 de junho de 2025

Antigas Ordens Terceiras Franciscanas dos Penitentes de São Francisco

As Ordens Terceiras

As ordens terceiras, como o próprio nome indica, foram formadas por leigos que, embora permanecessem no mundo com suas famílias e trabalhos, uniam-se espiritualmente a uma determinada ordem religiosa — como a dos frades (primeira ordem) ou das religiosas (segunda ordem). Esses leigos viviam o carisma da ordem, seguiam determinados votos, tinham deveres espirituais e, muitas vezes, recebiam indulgências específicas. Eles podiam usar o hábito religioso em cerimônias, ter igrejas próprias e viver o espírito da ordem, mesmo fora dos conventos. O mais importante, porém, era seguir os passos dos santos fundadores, testemunhando no cotidiano a força e a vitalidade de um carisma específico. Ao longo da história, pessoas de todas as classes — reis, nobres, plebeus, camponeses, intelectuais, analfabetos — encontraram nas ordens terceiras um caminho de santificação no meio do mundo, respondendo ao chamado universal à santidade. Servir a Deus no mundo é possível. As ordens terceiras são uma verdadeira escola de santidade e prova viva dessa vocação.

Fonte: adsacram(Instagram)





Confraria da Terceira Ordem Secular de São Francisco - Assis/Itália

É um dos três componentes fundamentais da Grande Família Franciscana, composta pelas Três Ordens fundadas por São Francisco, provavelmente em 1221. A primeira é a dos Frades Menores, a segunda das Clarissas, co-fundada com Santa Clara, e precisamente a chamada Ordem Terceira fundada para que também os leigos (chamados terciários franciscanos) pudessem participar ativamente de sua espiritualidade.

Por sua vez, a Ordem Terceira foi então dividida em dois ramos, a Terceira Ordem Regular (TOR) e a Terceira Ordem Secular (TOS) em que os terciários estão mais empenhados em querer seguir a prática dos conselhos evangélicos.

A regra deste movimento leigo foi definitivamente aprovada pelo Papa Nicolau IV com a bula "Supra Montem" de 18 de agosto de 1289.

Conta-se uma lenda curiosa sobre a origem do brasão heráldico, representando dois braços cruzados entre si com uma cruz no centro: em 1213, São Francisco, hóspede do Castelo de Susa de Beatriz de Genebra, esposa de Tomás I, Conde de Sabóia, recebeu um terreno de presente da Condessa para construir um convento. Em sinal de gratidão e para satisfazer o desejo da mulher que lhe pedia uma lembrança, São Francisco tirou uma manga de seu hábito e a deu à nobre. Durante a viagem de volta a Assis, o Pobrezinho abençoou aqueles que encontrou com armas em forma de cruz, com um braço nu e outro vestido. A relíquia da manga do hábito ainda existe hoje e é venerada na Catedral de São Francisco de Salès em Savoie.


IRMANDADE

Desde 1773, um ano após a supressão da Confraria de mesmo nome por ordem do Papa Clemente XIV, a Igreja de San Vitale é a sede da Confraria da Terceira Ordem Secular de São Francisco, provavelmente fundada pelo mesmo Santo em 1221 em Cannara quando, por ocasião de uma pregação naquele lugar, investiu o proprietário de terras de Cannara Lucio Modini como o primeiro seguidor da nova Ordem.

Inicialmente sujeita à direção espiritual dos Frades Menores Conventuais, a Confraria alcançou maior autonomia nas primeiras décadas do século XVII e agora se dedica ao serviço litúrgico, às obras de caridade e ao exercício da piedade para com os mortos.

Os confrades usam um hábito cinza com um cordão branco do qual está pendurada uma coroa do Santo Rosário.


IGREJA DE SAN VITALE

A Igreja de San Vitale, construída no século XV, até 1771/72 foi a sede da Confraria de mesmo nome. Em 1773, uma vez que a confraria foi suprimida, o então bispo de Assis Nicola Sermattei (17 de março de 1755 - 11 de março de 1780), designou a Igreja como sede da Confraria da Terceira Ordem Secular de São Francisco, movendo-a da anterior localizada na Basílica de São Francisco na Capela de Santa Catarina.

O acesso à igreja é feito subindo pela Via Porta Perlici. Depois de uma curta escadaria, chega-se a um portal encimado por uma pintura representando o brasão da Confraria da Ordem Terceira Secular de São Francisco. Construído no século XV e remodelado no século XVIII com a criação da decoração em mármore falso dos arcos, tem uma nave única dividida em quatro vãos. Numerosas telas adornam as paredes: São Francisco concedendo o cordão ao prior da Confraria (século XVIII), Crucificação com São Vitale, São Bento e o doador (1601), São Vitale invocado pelos doentes (1655) por Francesco Providoni, Sagrada Família (século XVII) e São Francisco (século XVIII). No altar, você pode admirar uma pintura de Girolamo Marinelli representando a Madona e o Menino com os santos Rufino, Vitale e Francesco, datada de 1647. Na parede da contrafachada encontra-se o coro com o valioso e interessante órgão de tubos, datável de um período entre os séculos XVII e XVIII, dadas as semelhanças marcantes com o órgão da Capela do Santíssimo Sacramento na Catedral de San Rufino. Um verdadeiro orgulho da Confraria, o órgão de tubos atribuído ao construtor de órgãos Aloisio Calligari da Foligno que remonta à primeira metade dos anos 1700, foi restaurado em 2017 graças à contribuição da Fundação Cassa di Risparmio di Perugia, do C.E.I. e da Paróquia de Stans – Oberdof – Büren (Suíça).


VIDA DE SÃO VITAL

Vitale nasceu em 1295 em Ospedalicchio di Bastia Umbra, perto de Assis. Depois de passar sua juventude dedicando-se ao banditismo e cometendo crimes hediondos, ele se arrependeu e tentou fazer penitência peregrinando aos santuários mais importantes do cristianismo, tanto na Itália quanto na França e na Espanha.

Voltando à Úmbria, a Montecchio, perto de Spoleto, viu em sonho São Bento de Núrsia, que o convidou a seguir sua Regra e lhe mostrou o eremitério para onde deveria ir, na costa do Monte Subásio, perto de Assis, perto da abadia beneditina existente aqui.

Neste mosteiro ingressou na Ordem de São Bento e pelo abade da mesma foi designado como eremitério o locum S. Mariae de Viole, onde passou o resto de sua vida em absoluta pobreza, vestido de trapos; Seu único trunfo era uma cesta usada para buscar água em uma nascente próxima.

Na ermida de Santa Maria di Viole, Vitale permaneceu por cerca de vinte anos até sua morte em 31 de maio de 1370, aos 75 anos, e também foi enterrado aqui.

A fama de sua santidade se espalhou rapidamente por todo o território devido aos muitos milagres atribuídos a ele e por isso uma igreja dedicada a ele foi construída no local de seu sepultamento. Nesta igreja seu corpo permaneceu até 19 de setembro de 1586, quando Mons. Giovanni Battista Brugnatelli, bispo de Assis (1577-1591), mandou transferi-lo para a Catedral de San Rufino, onde foi erguido um altar dedicado a ele. Em 2001, os restos mortais de São Vitale foram transportados novamente para a Igreja de San Vitale eremita, perto de Viole di Assisi. São Vital é invocado particularmente para a cura daqueles que estão doentes com patologias dos órgãos genitais e da bexiga.


https://www.confraternitadelterzordinedisanfrancescoassisi.it/

terça-feira, 27 de maio de 2025

Uma realidade viva na Igreja: Fraternidades Penitenciais Franciscanas Fora da Estrutura Atual da OFS:

1. Raízes Históricas dos Irmãos e Irmãs da Penitência

Em 1221, surge a "Memoriale Propositi", a primeira forma de vida para leigos que desejavam viver segundo o espírito de São Francisco, chamada de "Ordo poenitentiae" (Ordem da Penitência).

Esta forma de vida era essencialmente penitencial, centrada na conversão do coração, na simplicidade, no jejum, na esmola, na vida sacramental e nas obras de misericórdia.

Não se tratava de uma ordem religiosa, mas de um modo de vida evangélico no mundo, vivido por leigos, casados ou solteiros, e também clérigos diocesanos.


2. Evolução e Institucionalização

Com o tempo, os Irmãos da Penitência foram se organizando sob diversas formas e nomes: Terceira Ordem Franciscana, Ordem Terceira de São Francisco, Ordem Franciscana Secular, entre outros.

A Regra de Leão XIII (1883) foi uma grande reforma, dando uma forma mais moderna à vida dos terciários.

A Regra atual da OFS (1978) trouxe uma teologia mais contemporânea, centrada na vocação secular e menos na penitência visível e nos elementos externos.


3. Sobrevivência das Fraternidades Penitenciais Tradicionais

Mesmo após a Regra de 1978, muitos grupos mantiveram-se fiéis à espiritualidade dos primórdios, especialmente no desejo de viver a penitência pública, a simplicidade franciscana, o uso de sinais visíveis (meio-hábito, cordão, etc.) e uma vida marcada pela oração e reparação.

Na Europa, América do Norte e América Latina existem confrarias e ordens terceiras, e até alguns leigos solitariamente que seguem ainda a Regra de 1221, especialmente em contextos tradicionais ou ligados a comunidades eremíticas e de espiritualidade profunda.


4. Fundamentação Canônica

O Código de Direito Canônico respalda plenamente estas expressões:

Cân. 215: "Os fiéis têm o direito de fundar e dirigir livremente associações para fins de caridade ou de piedade ou para fomentar a vocação cristã no mundo..."

Cân. 298-311: Disciplinam as associações de fiéis, sejam públicas (eretas pela autoridade eclesiástica) ou privadas (fundadas por iniciativa dos fiéis), sempre em comunhão com a Igreja.

Cân. 299: "Os fiéis podem livremente fundar associações privadas, mediante acordo entre eles, para alcançar os fins indicados no cân. 298..."

Portanto, qualquer leigo, individualmente ou em grupo, pode assumir livremente, em comunhão com a Igreja, um modo de vida segundo o espírito dos "Fratres et Sorores de Poenitentia", sem estar vinculado à estrutura da OFS atual.


5. Exemplos no Mundo

Confraternità dei Penitenti di San Francesco (Itália): Grupo que vive segundo a Regra de 1221, com vida penitente, simplicidade e oração, autorizado pela diocese local.

Franciscan Third Order – Old Rule (Estados Unidos e Europa): Grupos que seguem a Regra anterior a 1978, em plena comunhão eclesial, com vida centrada na penitência e no serviço.

Eremitas Franciscanos Leigos: Presentes em vários países, são leigos que vivem segundo o espírito franciscano, com vida de oração, silêncio, trabalho e penitência.

Confrarias Penitenciais: Muito comuns na Espanha, Portugal e América Latina, que, embora não pertençam à OFS, mantêm práticas de vida penitencial franciscana, especialmente nas sextas-feiras e tempos litúrgicos fortes.


6. Conclusão

Viver como Penitente Franciscano fora da OFS, segundo o espírito dos primeiros irmãos da penitência, é absolutamente legítimo, lícito e profundamente enraizado na tradição da Igreja, desde que:


*Seja em comunhão com o bispo e o pároco;

*Não simule ministérios clericais;

*Mantenha a fidelidade à doutrina e à disciplina da Igreja.


Esta é uma expressão autêntica da Igreja carismática, que reconhece a ação do Espírito Santo suscitando formas de vida evangélica fora das estruturas formais, mas em plena comunhão.

domingo, 18 de maio de 2025

Estatuto Básico dos Penitentes Franciscanos


Introdução Histórica

Os Penitentes Franciscanos nascem do desejo profundo de alguns fiéis leigos e consagrados de viverem, no mundo de hoje, a penitência evangélica segundo o espírito de São Francisco de Assis. Inspirados nas Regras primitivas de Vida de 1221 e 1289  nas tradições eremíticas e populares franciscanas, assumem um estilo de vida marcado pela simplicidade, oração, conversão contínua e comunhão com a Igreja. Esta expressão de piedade popular, livre e fiel ao sensus fidei do povo de Deus, deseja florescer com a graça do Espírito Santo e sob o discernimento pastoral da Igreja. Este Estatuto serve como base espiritual e organizativa para aqueles que, em espírito de humildade, desejam seguir este caminho em fraternidade ou individualmente, como testemunhas do Evangelho da penitência.

Estatuto Básico

1. Nome Penitentes Franciscanos – Fraternidade Leiga dos Penitentes Franciscanos 

2. Identidade e Carisma Os Penitentes Franciscanos são fiéis que se sentem chamados a seguir Cristo pobre e crucificado à maneira de São Francisco de Assis, assumindo um caminho de penitência evangélica vivido no cotidiano, em oração, conversão contínua e serviço humilde.


3. Espiritualidade

Fidelidade ao Evangelho, as Fontes Franciscanas e segundo as Regras Primitiva dos Penitentes .

Vida de oração, jejum, silêncio e simplicidade, conforme a tradição franciscana penitente.

Devoção ao Cristo crucificado, à Virgem Maria, a São Francisco e à Igreja.

Amor à Eucaristia e ao Ofício Divino (ou Ofício da Paixão).

Inspiração nas orientações franciscanas aos irmãos eremitas.


4. Forma de Vida

Oração diária: Ofício Divino, Terço, ou Ofício da Paixão.

Jejum às sextas-feiras, confissão frequente, silêncio orante.

Reuniões semanais nas Igrejas ou capelas às sextas ou sábados para oração comunitária.

Participação frequente na Santa Missa, especialmente nas sextas-feiras.

Uso do meio-hábito cinza como símbolo público da consagração penitente:

- Nas Missas de sexta-feira e momentos penitenciais na Igreja;

- Nas reuniões semanais;

- Nas missões domiciliares e visitas fraternas.

Vida simples, fraterna, solidária e desapegada.

Fidelidade aos sacramentos e à comunhão eclesial.


5. Organização As fraternidades locais ou regionais terão coordenação fraterna (não hierárquica), com facilitadores de missão e, se possível, acompanhamento espiritual por clérigos ou religiosos próximos à espiritualidade franciscana.

6. Ingresso e Compromisso Qualquer fiel católico pode aderir após discernimento e iniciação. A consagração pode ser feita individualmente ou em fraternidade, e será anual ou vitalícia.

7. Comunhão Eclesial Os Penitentes Franciscanos vivem em fidelidade ao Papa, aos bispos e ao magistério da Igreja, buscando colaborar com a vida paroquial e diocesana, sempre abertos ao discernimento pastoral.


Oração de Consagração: 

Altíssimo e glorioso Deus, ilumina as trevas do meu coração e dá-me fé reta, esperança certa e caridade perfeita; senso e conhecimento, Senhor, para que cumpra teu santo e veraz mandamento. Amém.

Senhor Jesus, a exemplo de São Francisco, eu me consagro a Ti, pobre e crucificado, e assumo viver como penitente do Teu Evangelho, na simplicidade, oração, penitência e caridade. Recebe minha vida. Sustenta-me com Tua graça. Amém.

Bênção de Envio (para uso de um sacerdote) Que o Senhor abençoe e confirme este(a) irmão(ã) que hoje se consagra como Penitente Franciscano(a). Conceda-lhe a graça da perseverança, da humildade e da paz. E que, seguindo os passos de São Francisco, ele(a) seja sinal do amor de Deus no mundo. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Antigas Ordens Terceiras Franciscanas dos Penitentes de São Francisco

As Ordens Terceiras As ordens terceiras, como o próprio nome indica, foram formadas por leigos que, embora permanecessem no mundo com suas f...